TRATAMENTO DE CELULITE E IRREGULARIDADES CUTÂNEAS

Conteúdo extraído do livro “Ciência e Arte do Preenchimento”, Ed. AGE, 2018.

A celulite (ou lipodistrofia ginoide) é uma afecção do tecido conjuntivo subcutâneo, multifatorial, que altera e danifica a estrutura do tecido adiposo e pode manifestar se em diversos graus. Causada pelo acúmulo de gordura, água e toxinas nas células, compromete tanto a saúde como a harmonia estética do paciente, inibindo ainda a microcirculação do sangue: como a quantidade de gordura presente nas células é que determina o fluxo sanguíneo que as permeia, uma mudança da consistência tecidual pode diminuir essa quantidade de sangue, provocando uma gama de manifestações decorrentes.

Caracterizada por desníveis na pele e nódulos, a celulite em graus mais avançados apresenta clinicamente um aspecto comparável ao da casca de laranja. Em regiões afetadas, verifica-se um enrijecimento da camada de gordura. Ao lado da má circulação do sangue e insuficiência metabólica, ela propicia o surgimento de fibrose no tecido adiposo, quando, em áreas sem ocorrência de celulite, deveria haver normalmente espaços onde a gordura se movesse livremente sob a compressão da pele. Essa alteração clínica e a propensão para o seu aparecimento em regiões do abdômen, glúteos e dorso das coxas não podem ser relacionadas unicamente à obesidade. Mesmo pessoas magras podem sofrer desse mal. Quanto à tese de que a celulite acomete mais as mulheres que os homens, ainda não existem estudos comprobatórios. Contudo, sabe-se que cerca de 80% do público feminino sofre dessa condição. Isso se deve ao fato de a gordura se acumular, nas mulheres, geralmente nas coxas, nos quadris e nas nádegas, áreas mais propensas à celulite.

A doença é comumente catalogada como uma alteração dermatológica; contudo, existem diferentes teorias para explicá-la. Uma delas faz referência à ocorrência de edema no tecido conjuntivo, ocasionando grande acúmulo de água, o que propicia seu aparecimento. Isto é, ao alterar a microcirculação, principalmente em decorrência de sobrepeso ou obesidade, a compressão dos sistemas venosos e linfáticos resulta em celulite. Ela também pode estar associada à projeção do tecido conjuntivo, característica verificada essencialmente em mulheres.
O surgimento da celulite pode ainda ser influenciado pela perda de colágeno na região onde se apresenta, estresse, sedentarismo, hereditariedade, contraceptivos hormonais, idade, sexo, gravidez e nutrição, entre outros. Ela pode depositar-se em diferentes regiões do corpo: as palmas das mãos, as plantas dos pés e o couro cabeludo são as únicas partes não atingidas. A postura corporal também é outro fator a ser levado em conta.

Além de provocar alterações estéticas, a celulite pode causar problemas de saúde, como dor e insuficiência metabólica, principalmente nos seus estágios mais avançados. As formações de nódulos de gordura cada vez maiores resultam dos graus mais avançados da doença. Com esse aumento, a projeção da celulite se opõe cada vez mais à força de resistência das trabéculas de sustentação conjuntiva (graus 3 e 4).

 

O lipócito, célula que apresenta pequenos vacúolos de gordura distribuídos em seu interior, é o local onde se acumula a gordura proveniente da alimentação. Com o progressivo aumento da deposição adiposa nesses vacúolos, eles aumentam de tamanho, aproximando-se uns dos outros e, posteriormente, se juntando, de modo a ocupar cada vez mais o interior da célula. Entre os lipócitos correm os vasos e as artérias que suprem as células de sangue, oxigênio e nutrientes, bem como as veias e os linfáticos, que transportam o sangue e os produtos do metabolismo de volta para a circulação. Tudo isso se dá em processo contínuo. Indivíduos com tendência a serem magros têm menos lipócitos, ao passo que as pessoas com inclinação à obesidade têm mais. No tecido gorduroso existem, também, as fibras que separam os grupos de lipócitos. Essas fibras são responsáveis por uma maior propensão à celulite nas mulheres, uma vez que elas são finas e perpendiculares à pele, ligando-a ao tecido muscular mais profundo. Quando o tecido gorduroso se expande, na mulher, em função do acúmulo de gordura, ele aumenta na direção da pele.
Nos homens, essas fibras são mais grossas e se ligam à musculatura de forma oblíqua. Assim sendo, no caso deles, as fibras resistem à expansão do tecido gorduroso, levando-o a se instalar nas camadas mais profundas da pele.

O tecido gorduroso expandido comprime as veias e os linfáticos, formando um edema (inchaço), que, por sua vez, aumenta ainda mais o tecido e acelera o processo de celulite. Os hormônios femininos canalizam mais gordura para regiões como os quadris e alteram as paredes das microveias, piorando as condições circulatórias. Esse mecanismo forma um círculo vicioso, que, uma vez iniciado, só tende a piorar se não for efetivamente tratado. A doença requer tratamento com especialista e, segundo autores, é catalogada em quatro estágios, sendo que na condição normal, o tecido gorduroso é ricamente irrigado, as células gordurosas têm tamanho e forma normal e os vasos são eficientes. Não existe edema e a termografia permanece dentro dos padrões preestabelecidos.

PRIMEIRA ETAPA – Há um acúmulo de gordura nas células do tecido gorduroso que não causa alterações da circulação sanguínea ou dos tecidos, sendo que elas são apenas histopatológicas. É possível observar a dilatação das pequenas veias, mas não há dor.

SEGUNDA ETAPA – A celulite é perceptível quando o músculo é contraído ou quando a pele é apalpada. Ocorre diminuição da temperatura e perda de elasticidade da pele. As células adquirem uma quantidade maior de gordura e se nota um certo grau de fibrose, que, se agravado, causa micronódulos. O aumento do volume das células gera alterações na circulação, em razão da compressão que elas exercem sobre as microveias e os vasos linfáticos. Em função disso, a região acumula resíduos tóxicos, que, normalmente, seriam eliminados do corpo. Nesse estágio não há dor, mas as irregularidades podem ser observadas.

TERCEIRA ETAPA – Aqui, a celulite apresenta nódulos, é visível mesmo sem a compressão dos tecidos ou apalpação e provoca até mesmo alterações na sensibilidade da pele. O contínuo aumento do volume das células causa uma desordenação do tecido e o surgimento de nódulos. A circulação fica mais comprometida e há formação de fibrose. Nessa fase, podem surgir microvarizes, e a pele adquire o aspecto de uma casca de laranja. Percebem-se uma sensação de peso e cansaço nas pernas acometidas por celulite.

QUARTA ETAPA – A pele fica enrugada, flácida, com nódulos grandes e dolorosos, além de haver fibrose. Neste caso, a celulite é aparente em qualquer posição anatômica. O cansaço e as dores são frequentes, mesmo sem nenhum esforço.

A escala relaciona a pele normal e os estágios mais avançados da celulite. São eles:

ESTÁGIO 0 – Sem covinhas na posição em pé, deitada e até mesmo quando submetida ao teste do beliscão.
ESTÁGIO 1 – As covinhas não aparecem quando se está de pé ou deitada, mas o teste do beliscão revela a celulite.
ESTÁGIO 2 – As covinhas ficam expostas quando se está em pé, mas, ao deitar, elas desaparecem.
ESTÁGIO 3 – Covinhas expostas seja qual for a posição.

A celulite se instala em várias partes do corpo, mas constata-se uma predominância na região dos glúteos, na porção lateral das coxas, na face interna e posterior da coxa, no abdômen, na nuca, na face interna dos joelhos e na parte posterior e lateral dos braços. Em pacientes com clara predisposição, o tecido adiposo pode acumular-se até mesmo nos tornozelos.

A herança genética é muito importante nos casos de celulite. Podem-se herdar distintos fatores que predispõem a ela, como a produção de hormônios e até mesmo a assimilação de hábitos alimentares. Supondo, por exemplo, que duas irmãs gêmeas idênticas e com predisposição genética para a celulite sejam criadas por famílias diferentes, sendo que uma segue padrões alimentares saudáveis e tem atividade física regular e a outra, não, a primeira gêmea terá muito menos probabilidade de desenvolver celulite. Em resumo, pessoas com tendência hereditária para desenvolver celulite que cuidam da alimentação e do corpo, provavelmente desenvolverão menos a doença do que aquelas que têm vida sedentária e maus hábitos alimentares.

A INFLUÊNCIA HORMONAL – Os hormônios femininos têm papel importante no aparecimento da celulite, pois eles determinam onde a gordura será depositada ainda na adolescência. Também são eles que atribuem as características ginoides, estimulando a deposição de gordura nos quadris e nas coxas. A ação hormonal nas mulheres se verifica, ainda, nas paredes das veias, onde ocorre formação de edema e retenção de líquidos no final do ciclo menstrual, fatores estes que propiciam o aparecimento da celulite. A formação de tecido adiposo em excesso decorre, portanto, de uma conjunção de fatores: a ação hormonal e as alterações em veias e linfas.
ALIMENTAÇÃO E CELULITE – As células atuam como operárias de uma fábrica que produz várias substâncias úteis, mas o seu trabalho deixa resíduos tóxicos, que precisam ser eliminados constantemente. Comer mais que o necessário, exceder-se no consumo de gorduras e carbo-hidratos e entregar-se a maus hábitos alimentares, em especial à noite aumentam a síntese e o armazenamento de gorduras e favorece a celulite. Beber pouca água e abusar do sal também dificultam a troca de líquidos do organismo, promovendo a retenção de resíduos tóxicos do metabolismo celular.
VIDA SEDENTÁRIA – A falta de exercícios físicos inibe o consumo de energia pelo corpo, facilitando a transformações das sobras alimentares em gordura. Além disso, com o tempo, as células perdem sua capacidade de produzir energia, o que leva o organismo a ser cada vez mais lento. As facilidades da vida moderna são, portanto, imperativo para combater o sedentarismo.

Não há uma cartilha padronizada para tratar efetivamente a celulite, pois cada caso é um caso. Na maioria das vezes, a combinação de diferentes abordagens
leva a um resultado natural e harmônico. Há tratamento para todos os níveis de celulite, mas nos mais leves a recuperação é total, enquanto nos demais o resultado é apenas parcial. Ainda assim, é importante submeter-se a ele, porque a celulite é uma doença cumulativa. Quanto mais cedo se iniciar um tratamento, melhor será o resultado. A termografia é importante não só para determinar o grau de tecido adiposo acumulado e planejar o tratamento, como também é um parâmetro para definir prognósticos.

Existe atualmente grande variedade de tecnologias que, associadas, permitem eliminá-la. A combinação de radiofrequência e infravermelho queima a gordura localizada, ajudando na microcirculação e aumentando a produção de colágeno, o que leva a uma melhora da pele. A drenagem linfática (que alguns aparelhos realizam combinando vácuo e manipulação mecânica) ajuda a desobstruir a microcirculação, revertendo o inchaço, responsável pelo aspecto de casca de laranja, e melhora a tez. É possível, também, usar preenchimentos dos mais diversos tipos para ajudar no tratamento. Preenchedores permanentes, como o polimetilmetacrilato (PMMA), se injetados profundamente, abaixo do músculo, estimulam a produção de colágeno local e também melhoram a volumetria. Nos casos de celulite de graus 3 e 4, classificação dos autores Rao et al. e Rossi & Verganini. Ou 2 e 3 pela escala de NURNBERGER-MÜLLER. Quando o septo fibroso é visível, recomenda-se removê-lo com o auxílio de uma agulha bisturizada que desenvolvi para meus pacientes, a Goldenneedle, possibilitando a infiltração anestésica ou de produtos particulados e ao mesmo tempo o descolamento do septo fibroso.

Ver Capítulos
Introdução

Em busca da fonte da juventude

Primeira Parte: CONCEITOS DE BELEZA

Anatomia ósse da face
Anatomia da pele
Beleza e Atratividade
– Por que achamos alguém bonito?
– Sequência de Fibonacci
– Estética áurea
– Para pensar
Etiologia do envelhecimento
– Como nos tornamos senis?
– Telômeros e senescência
– Isto é surpreendente!
– Vida útil em discussão
– O equilíbrio da imunidade
O envelhecimento cutâneo
– Fisiopatologia
– Achados clínicos
– Medidas preventivas
– A importância do bom-senso médico no tratamento estético
Transtorno dismórfico corporal
– Etiologia
– TDC e procedimentos estéticos
O potencial de transformação dos fillers
– Condições ideais para um bom produto de preenchimento
– O que é o preenchimento
– Lifting X Ressurfacing
– Técnicas de volumetria
O que a ciência promete para o futuro?

Segunda parte: PREENCHEDORES MAIS USADOS

Não permanentes
Permanentes ou não absorvíveis
Características gerais
Polimetilmetacrilato
Ácido hialurônico
MD Codes
Ácido polilático
– Utilização dos fios de ácido polilático
Hidroxiapatita de cálcio
Hidrogel
Silicone líquido injetável
Outros tratamentos associados a preenchimento
– Toxina botulínica
– Laser CO2 fracionado
Adendo: Análise microscópica do polimetilmetacrilato

Terceira parte: O PASSO A PASSO DA TRANSFORMAÇÃO

Uma plástica minimamente invasiva
O instrumental que se usa
O procedimento e a “mão” do médico
Tipos de anestesia
Perigos do procedimento com preenchedores em geral
Topografia facial e riscos do preenchimento
Complicações e como gerenciá-las

Quarta parte: PROCEDIMENTOS FACIAIS E CORPORAIS

Preenchimento facial
Preenchimento das maçãs do rosto
Preenchimento de rugas, sulcos faciais e cicatrizes
Rinomodelação com preenchimento
Preenchimento da mandíbula
Preenchimento labial
Preenchimento do mento
Preenchimento de pálpebras
Preenchimento peitoral
Preenchimento de glúteos
Preenchimento em lipodistrofia
Bioplastia genital
– Bioplastia e técnicas para aumento do pênis
– Bioplastia de saco escrotal
– Bioplastia de glande
– Bioplastia de vulva
– Bioplastia de clitóris
– Bioplastia de reconstrução após mudança de sexo
Poliomielite
Síndrome de Parry Romberg
Tratamento de celulite e irregularidades cutâneas
Goldincision – Tratamento com subcisão e preenchimento com PMMA

Quinta parte: ASPECTOS JURÍDICOS

A Anvisa e os produtos aprovados por ela
Direito e Medicina
A lei e o uso de implantes líquidos
O Código de Ética Médica

 

 

 

Ciência e Arte do Preenchimento é o primeiro livro do Dr. Roberto Chacur. Na publicação, o Dr. Chacur reúne sua experiência para mostrar a ciência por trás do preenchimento e o requinte da arte na hora de trabalhar harmonização facial e corporal.
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