HIDROGEL

Conteúdo extraído do livro “Ciência e Arte do Preenchimento”, Ed. AGE, 2018.

Conhecido popularmente como hidrogel, o Aqualift foi um produto que se manteve no mercado brasileiro por aproximadamente 6 anos. Composto de 94-96% de água e 2-4% de poliamida, esse gel poderia ser utilizado em qualquer local do corpo humano, inclusive nas mamas. Sua aplicação era localizada basicamente na região subcutânea. Com o tempo foi verificado incidência significativa de migração do produto (deslocamento) e ainda casos graves de infecção, fazendo com que o produto fosse proibido pela ANVISA em 2016.

O hidrogel é um polímero usado como preenchedor cuja composição consiste em 96-98% de água e 2-4% de poliamida. Utilizado no Brasil desde 2008, é vendido na forma de gel. Produtos de procedência duvidosa chegam a ser encontrados no mercado a um custo vantajoso para preencher áreas como glúteos e coxas (muitas vezes silicone líquido e produtos sem registro na ANVISA), que demandam maior quantidade de substância (para fazer um aumento de volume razoável das nádegas). Além dos glúteos e das pernas, o hidrogel é utilizado em pequenos volumes para atenuar linhas e rugas no rosto e no pescoço, sendo esta sua principal indicação. Hidrogel é a denominação genérica, geralmente relacionada ao Aqualift. O hidrogel deve imperiosamente ser aplicado por profissionais de saúde habilitados, em ambulatório ou hospital: quando a aplicação é malsucedida, a retirada do produto é trabalhosa, pois geralmente são utilizados volumes consideráveis, e, quando se trata de processo infeccioso, a retirada do produto é mandatória.


A marca de hidrogel mais conhecida é o Aqualift, cujo registro na Anvisa está suspenso desde 31 de março de 2016, por conta de graves problemas de saúde gerados. Nos Estados Unidos, o produto não é aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA), responsável pela regulamentação de alimentos e medicamentos. Pesa contra o hidrogel o fato de não haver estudos suficientes que garantam sua segurança a longo prazo.

O hidrogel era utilizado para amenizar rugas e flacidez e para corrigir pequenas cicatrizes na pele, celulite de grau IV e deformidades faciais congênitas ou adquiridas em consequência de algum acidente, ou no caso de lipoatrofias da face, como ocorre com pacientes com Aids. O preenchimento com hidrogel pode ser útil para aumentar os lábios, os seios, as panturrilhas ou os tornozelos e para preencher vincos profundos e linhas de expressão no rosto ou no pescoço.
O procedimento é simples e consiste na aplicação de uma injeção de hidrogel na região onde se quer dar volume, com anestesia local. Após o implante da substância, assim como os demais produtos preenchedores, não é realizado ponto nem cicatriz aparente.

O produto é injetado na região entre o subcutâneo e a fáscia muscular (tecido que envolve os músculos) com auxílio de uma microcânula, muitos profissionais utilizam agulha calibrosa, o que contraindico, pelo maior risco de lesão vascular e eventos isquêmicos. Embora rápido, é um procedimento que precisa ser realizado em um local adequado com liberações pertinentes junto a orgãos reguladores. O profissional médico precisa ter treinamento e afinidade com implantes líquidos. Atualmente muitos profissionais não médicos estão realizando preenchimentos, como dentistas, biomédicos e enfermeiras. Imediatamente após a aplicação, é preciso massagear a área. Tão logo é injetado no organismo, o hidrogel provoca uma reação inflamatória, a resposta imunológica do organismo contra infecções. Uma vez implantado, o produto adquire consistência gelatinosa, e o corpo produz uma cápsula que envolve a substância, garantindo, assim, sua permanência no local e evitando que migre para outras partes (o que não ocorre na prática).
O hidrogel (Aqualift) é um produto absorvível, que permanece no corpo por cerca de 5-6 anos, dependendo de onde foi aplicado e das características do paciente, embora muitos pacientes que realizaram o tratamento há mais de 8 anos ainda possuam produtos no local tratado, conforme verifiquei em exames de imagem. Outro produto considerado hidrogel é o Remake (nome comercial), vendido no mercado com a durabilidade de 2 anos. No Brasil, já tive o descontentamento de atender centenas de pacientes com reação a silicone líquido em membros inferiores e glúteos, acreditando ser algum tipo de hidrogel, como Aqualift ou Metacril, denominação do PMMA.

Quando se aplica uma grande quantidade de material sob a pele, o risco é de o produto acabar “escorrendo” e ser depositado em algum local indesejado. Outra possibilidade é de a substância ser equivocadamente injetada dentro de um vaso sanguíneo, o que pode formar uma trombose e necrosar a pele local.

O paciente está sujeito ainda a ter hematomas, alergia ao produto e dores. Diante de problemas semelhantes, a retirada do material deve ser cirúrgica ou por meio de uma lipoaspiração. De modo geral, o preenchimento cutâneo com hidrogel é bem tolerado e o paciente tem pronta recuperação, sem necessidade de ser internado, principalmente se optar por fazer uso de uma pequena quantidade do produto no rosto, por exemplo. Na maioria desses casos, há registro apenas de suave dor localizada, inchaço e vermelhidão onde a injeção foi aplicada.
Por mais que o organismo produza uma cápsula envolvendo o hidrogel, há sempre o risco de a substância migrar para outras áreas ou que seja identificada como corpo estranho pelo sistema imunológico. Isso pode provocar diversos problemas: formação de granuloma ou nódulos, endurecimento dos tecidos, imperfeições, deformidades, reações alérgicas, infecções localizadas e sistêmicas, problemas circulatórios e necrose. Essas manifestações nem sempre surgem imediatamente depois da aplicação: como o organismo precisa de algum tempo para eliminar o hidrogel, seus efeitos colaterais podem se manifestar até 5-6 anos após sua aplicação.

Caso típico de infecção tardia em paciente submetida a aplicação de hidrogel (Aqualift) por profissional desconhecido. Produtos à base de água fazem correr um risco muito elevado de infecção, mesmo que tardiamente. Uso de antibióticos não surte efeitos, devido à má penetração no local. O tratamento deve ser cirúrgico, com drenagem total do produto, o que é muito difícil para ser realizado em um único procedimento, principalmente quando são grandes volumes. Pacientes com esse tipo de acometimento costumam ser submetidas a diversos procedimentos, mas em regra evolui bem quando o diagnóstico é precoce e se faz a remoção do produto.

Há, também, a possibilidade de ocorrerem complicações inerentes à própria técnica de aplicação. O uso de agulhas oferece risco de perfurar algum vaso e causar embolia pulmonar ou alguma artéria terminal, provocando isquemia. Além disso, a injeção pode ser porta de entrada para algumas bactérias que formam uma camada chamada biofilme. Na maioria das vezes, os microrganismos não causam prejuízo, mas alterações no sistema imunológico – quimioterapia ou estresse muito grande podem fazer com que eles proliferem, causando infecção generalizada.

Não recomendo realizar qualquer procedimento infiltrativo em pacientes que já usaram hidrogel ou silicone líquido ou produtos de origem duvidosa. Mesmo que compatíveis esses produtos podem vir a causar problemas no futuro, e acabarão por associar o problema ao último médico que realizou o procedimento. Pacientes com quadros infecciosos, bacterianos ou fúngicos, ou inflamatórios, agudos ou crônicos, doenças de pele, circulatórias ou hematológicas relacionadas a distúrbios de coagulação e à presença de tumorações também devem abster-se do seu uso. Além disso, ficar alerta nas aplicações em pacientes portadores de doenças sistêmicas, como as reumatológicas e colagenoses, ou alergias.

Como o hidrogel não está mais devidamente regulamentado no Brasil, recomenda-se ao paciente levantar o máximo de informações possível sobre o médico, o estabelecimento cirúrgico e o produto que será usado. Sua procedência, data de validade, quantidade a ser aplicada e autorização das autoridades sanitárias são o atestado de segurança do procedimento. É igualmente imperioso realizar o procedimento em local que ofereça boas condições de higiene e possa atender eventuais intercorrências médicas: embora pouco invasivo, o preenchimento apresenta riscos de complicações que podem estender-se por anos.

Ver Capítulos

Introdução

Em busca da fonte da juventude

Primeira Parte: CONCEITOS DE BELEZA

Anatomia ósse da face
Anatomia da pele
Beleza e Atratividade
– Por que achamos alguém bonito?
– Sequência de Fibonacci
– Estética áurea
– Para pensar
Etiologia do envelhecimento
– Como nos tornamos senis?
– Telômeros e senescência
– Isto é surpreendente!
– Vida útil em discussão
– O equilíbrio da imunidade
O envelhecimento cutâneo
– Fisiopatologia
– Achados clínicos
– Medidas preventivas
– A importância do bom-senso médico no tratamento estético
Transtorno dismórfico corporal
– Etiologia
– TDC e procedimentos estéticos
O potencial de transformação dos fillers
– Condições ideais para um bom produto de preenchimento
– O que é o preenchimento
– Lifting X Ressurfacing
– Técnicas de volumetria
O que a ciência promete para o futuro?

Segunda parte: PREENCHEDORES MAIS USADOS

Não permanentes
Permanentes ou não absorvíveis
Características gerais
Polimetilmetacrilato
Ácido hialurônico
MD Codes
Ácido polilático
– Utilização dos fios de ácido polilático
Hidroxiapatita de cálcio
Hidrogel
Silicone líquido injetável
Outros tratamentos associados a preenchimento
– Toxina botulínica
– Laser CO2 fracionado
Adendo: Análise microscópica do polimetilmetacrilato

Terceira parte: O PASSO A PASSO DA TRANSFORMAÇÃO

Uma plástica minimamente invasiva
O instrumental que se usa
O procedimento e a “mão” do médico
Tipos de anestesia
Perigos do procedimento com preenchedores em geral
Topografia facial e riscos do preenchimento
Complicações e como gerenciá-las

Quarta parte: PROCEDIMENTOS FACIAIS E CORPORAIS

Preenchimento facial
Preenchimento das maçãs do rosto
Preenchimento de rugas, sulcos faciais e cicatrizes
Rinomodelação com preenchimento
Preenchimento da mandíbula
Preenchimento labial
Preenchimento do mento
Preenchimento de pálpebras
Preenchimento peitoral
Preenchimento de glúteos
Preenchimento em lipodistrofia
Bioplastia genital
– Bioplastia e técnicas para aumento do pênis
– Bioplastia de saco escrotal
– Bioplastia de glande
– Bioplastia de vulva
– Bioplastia de clitóris
– Bioplastia de reconstrução após mudança de sexo
Poliomielite
Síndrome de Parry Romberg
Tratamento de celulite e irregularidades cutâneas
Goldincision – Tratamento com subcisão e preenchimento com PMMA

Quinta parte: ASPECTOS JURÍDICOS

A Anvisa e os produtos aprovados por ela
Direito e Medicina
A lei e o uso de implantes líquidos
O Código de Ética Médica

 

 

 

Ciência e Arte do Preenchimento é o primeiro livro do Dr. Roberto Chacur. Na publicação, o Dr. Chacur reúne sua experiência para mostrar a ciência por trás do preenchimento e o requinte da arte na hora de trabalhar harmonização facial e corporal.

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