O PROCEDIMENTO E A “MÃO” DO MÉDICO

Conteúdo extraído do livro “Ciência e Arte do Preenchimento”, Ed. AGE, 2018.

Durante uma primeira avaliação em consultório, o paciente se submete a uma marcação das áreas onde será feito, posteriormente, o implante. Essa marcação será acompanhada de uma assepsia do local. A aplicação definitiva e irreversível tem duração de cerca de uma hora. Uma vez feito o preenchimento, a região que recebeu o biomaterial é moldada para que o próprio organismo do paciente produza a trama de tecido em torno do produto injetado. A técnica de preenchimento com PMMA é indicada tanto para homens como para mulheres e visa a realçar a beleza, criar linhas e ângulos, recuperar o desenho do rosto envelhecido ou complementar o resultado de uma cirurgia plástica anterior. Embora seja um procedimento ambulatorial, ela pode oferecer riscos, principalmente se realizada por pessoas não autorizadas ou capacitadas.

Em alguns casos, não há controle dos produtos usados e das condições de higiene necessárias para um atendimento qualificado, o que potencializa a incidência de reações adversas e doenças. Além disso, os materiais empregados durante a conduta de preenchimento devem ser de manuseio e uso restritos e, por isso mesmo, devem ser adquiridos somente por médicos.

Antigamente, inúmeras farmácias manipulavam o polimetilmetacrilato, mas, a partir de 2007, apenas as indústrias rigorosamente controladas pela Anvisa passaram a ter autorização para utilizar o produto. Isso permitiu controlar a incidência de infecção e granuloma, mas, ainda assim, é importante que o paciente se mantenha atento à procedência do produto que será implantado. Sendo o implante de filler um procedimento médico como tantos outros, ele não exime o profissional de um amplo domínio científico dos preenchedores disponíveis no mercado e da habilidade de fazer a melhor opção para cada caso.
Atualmente, profissionais da área da saúde como odontologistas e biomédicos estão fazendo uso de produtos preenchedores absorvíveis mediante liberação dos seus respectivos conselhos.
O ácido hialurônico, por exemplo, pode e deve ser usado sempre que o paciente não tiver certeza dos resultados que almeja. Já o PMMA não é indicado em áreas como os lábios e os seios

Outra área que requer extremo cuidado é onde se faz uma correção das linhas de expressão glabelares. A região geralmente não oferece dificuldades, pois a derme é espessa e há tecido conjuntivo em boa quantidade para suportar o implante. No entanto, há risco de oftalmoplegia e cegueira após injeções nessa região, de acordo com relato de caso apresentado por Silva e Curi (2004). A injeção na área glabelar oferece maior risco de complicações oculares devido à importante rede de anastomoses presente, onde múltiplos ramos das artérias oftálmicas se projetam para fora da órbita em direção à face (artéria supratroclear e supraocular). Acidentes oculares causados pelo fluxo retrógrado produzido pela injeção nos ramos extraorbitais da artéria oftálmica já foram descritos por outros autores, como Dreizen (1989) e Egido (1993), como resultado da injeção de gordura autóloga, não apenas na região glabelar, como sulcos, nariz, e frontal; até 2017, já tinha descrito 98 casos de comprometimento ocular por produtos preenchedores, em sua maioria com gordura e em outros com ácido hialurônico.
Especificidades técnicas à parte, é sempre importante destacar a importância da maestria técnica para obter bons resultados. Sendo que a quantidade de polimetilmetacrilato liberado por meio da microcânula depende exclusivamente da pressão que o médico faz sobre o êmbolo da injeção e do tempo em que a agulha permanece na pele do paciente, o domínio do instrumental é muito importante.
Resumidamente, a técnica consiste em aplicar uma quantidade adequada de produto enquanto a agulha (geralmente cânulas) vem sendo removida da pele: enquanto traça o caminho da área a ser preenchida, o profissional vai fazendo maior ou menor pressão sobre o êmbolo, prolongando mais ou menos a permanência da microcânula sob a pele, de maneira a infiltrar a quantidade desejada de substância. Assim, a habilidade de manusear o instrumento é decisiva para que o implante fique distribuído de maneira uniforme.

Outra questão diz respeito à maneira como o implante deve ser feito: na forma de cilindro e bem distribuído, como um risco, e jamais em forma de esferas, o que pode induzir a formação de uma cápsula fibrosa ao redor do produto, propiciando o surgimento de um corpo arredondado e enrijecido.
Quando se objetiva uma projeção significativa, o produto deve ser implantado de forma submuscular. O método possibilita maior naturalidade e muitas vezes repõe o volume perdido, e não apenas o ósseo, mas em todas as camadas da pele, e, consequentemente, melhora a frouxidão muscular. Ele também reverte a flacidez muscular e realiza uma biomodulação dessa musculatura.
Muito mais do que um procedimento puramente matemático, o implante de preenchedores mobiliza, no médico, critérios de bom-gosto e senso de harmonia. A exemplo de um escultor, ele vai delineando, durante seu trabalho, contornos, apurando contrastes de luz e sombra, resgatando traços de jovialidade e imprimindo tônus, homogeneidade e harmonia facial.
A diferença entre ele e o entalhador é que um utiliza cinzel, lima, martelo e formão, enquanto o outro recorre às microcânulas, a agulhas e a um padrão de beleza que consegue enxergar no seu paciente, a despeito das imperfeições que se sobressaem em um primeiro momento.
A precisão e o mínimo detalhe são aspectos que ele persegue para dar polimento ao seu trabalho. Apurando-os – e aprimorando seus conhecimentos de anatomia humana –, ele se torna capaz de libertar feições proporcionalmente equilibradas em homens e mulheres alçados aos ideais da beleza. Guiado pelo seu faro estético, esse profissional em cirurgia reparadora manuseia, assim, conceitos como volumerizar, desbastar, harmonizar e delinear.

Define linhas, apaga sulcos, projeta formas e anula a lei da gravidade. Modela em pessoas de carne, osso e imperfeições o que escultores da Grécia antiga buscaram imprimir à pedra séculos atrás: uma perfeição de detalhes capaz de fazer de todo homem um eterno kouros, o indivíduo do sexo masculino jovem em grego, e de toda mulher uma korés, fonte de juventude perene. Quanto mais artista for esse artesão-médico, mais prestígio conquistará
como médico injetor (bioplasta) na medicina estética, assumindo, nos tempos modernos, o papel que foi reservado a escultores como Fídias ou Policleto, que talharam primeiro no mármore e em seguida no bronze a representação plástica máxima dos deuses e dos atletas – aqueles que, sob o talhe e reboco de seus instrumentos manuais, com o sentido da eternidade e da perfeição contidos no imaginário popular.

Ver Capítulos

Introdução

Em busca da fonte da juventude

Primeira Parte: CONCEITOS DE BELEZA

Anatomia ósse da face
Anatomia da pele
Beleza e Atratividade
– Por que achamos alguém bonito?
– Sequência de Fibonacci
– Estética áurea
– Para pensar
Etiologia do envelhecimento
– Como nos tornamos senis?
– Telômeros e senescência
– Isto é surpreendente!
– Vida útil em discussão
– O equilíbrio da imunidade
O envelhecimento cutâneo
– Fisiopatologia
– Achados clínicos
– Medidas preventivas
– A importância do bom-senso médico no tratamento estético
Transtorno dismórfico corporal
– Etiologia
– TDC e procedimentos estéticos
O potencial de transformação dos fillers
– Condições ideais para um bom produto de preenchimento
– O que é o preenchimento
– Lifting X Ressurfacing
– Técnicas de volumetria
O que a ciência promete para o futuro?

Segunda parte: PREENCHEDORES MAIS USADOS

Não permanentes
Permanentes ou não absorvíveis
Características gerais
Polimetilmetacrilato
Ácido hialurônico
MD Codes
Ácido polilático
– Utilização dos fios de ácido polilático
Hidroxiapatita de cálcio
Hidrogel
Silicone líquido injetável
Outros tratamentos associados a preenchimento
– Toxina botulínica
– Laser CO2 fracionado
Adendo: Análise microscópica do polimetilmetacrilato

Terceira parte: O PASSO A PASSO DA TRANSFORMAÇÃO

Uma plástica minimamente invasiva
O instrumental que se usa
O procedimento e a “mão” do médico
Tipos de anestesia
Perigos do procedimento com preenchedores em geral
Topografia facial e riscos do preenchimento
Complicações e como gerenciá-las

Quarta parte: PROCEDIMENTOS FACIAIS E CORPORAIS

Preenchimento facial
Preenchimento das maçãs do rosto
Preenchimento de rugas, sulcos faciais e cicatrizes
Rinomodelação com preenchimento
Preenchimento da mandíbula
Preenchimento labial
Preenchimento do mento
Preenchimento de pálpebras
Preenchimento peitoral
Preenchimento de glúteos
Preenchimento em lipodistrofia
Bioplastia genital
– Bioplastia e técnicas para aumento do pênis
– Bioplastia de saco escrotal
– Bioplastia de glande
– Bioplastia de vulva
– Bioplastia de clitóris
– Bioplastia de reconstrução após mudança de sexo
Poliomielite
Síndrome de Parry Romberg
Tratamento de celulite e irregularidades cutâneas
Goldincision – Tratamento com subcisão e preenchimento com PMMA

Quinta parte: ASPECTOS JURÍDICOS

A Anvisa e os produtos aprovados por ela
Direito e Medicina
A lei e o uso de implantes líquidos
O Código de Ética Médica

 

 

 

Ciência e Arte do Preenchimento é o primeiro livro do Dr. Roberto Chacur. Na publicação, o Dr. Chacur reúne sua experiência para mostrar a ciência por trás do preenchimento e o requinte da arte na hora de trabalhar harmonização facial e corporal.

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