TERCEIRA PARTE – O PASSO A PASSO DA TRANSFORMAÇÃO

Conteúdo extraído do livro “Ciência e Arte do Preenchimento”, Ed. AGE, 2018.

Imagine uma plástica sem incisões nem pontos, uma técnica que permite injetar biomateriais em planos anatômicos profundos por meio de um processo minimamente invasivo. O implante de substâncias biocompatíveis com o organismo humano, visando a aumentar o volume de determinadas áreas do rosto e de outras partes do corpo, existe e está ao alcance de qualquer pessoa. Mais: as substâncias com que permite trabalhar não são tóxicas e não causam alergia nem rejeição. São infiltradas por meio de um pequeno pertuito na pele, provocado por microcânulas.
O procedimento permite criar ou reconstruir ângulos e contornos alterados em razão da perda de volumes, reabsorção de gorduras, queda de cartilagem, processos de hipotrofia, hipotonia e até da lipodistrofia em caso de uso de antirretrovirais na AIDS. É um processo seguro desde que bem conduzido por um médico capacitado, que utilize o material adequado para cada caso. Os preenchimentos com fillers permitem promover mudanças definitivas ou temporárias e representam uma alternativa aos pacientes que querem corrigir aspectos do corpo ou da face, mas têm receio de se submeter a intervenções cirúrgicas. Dependendo da região onde o procedimento é realizado e para as finalidades a que se propõe, a conduta tem o mesmo potencial em algumas ocasiões, inatingível mesmo com cirurgia plástica e pode devolver ao paciente volumes que perdeu inclusive pela própria ação do tempo.

A intervenção médica é realizada com anestesia local – isto é, não é necessário recorrer a um hospital – e de maneira interativa: o paciente participa ativamente do seu desenvolvimento, de frente para um espelho, enquanto a plástica é levada adiante sem cortes, sem pós-operatório, sem sangramentos e sem cicatriz. Por isso, também permite regressar às atividades habituais em pouco tempo e com poucas restrições.
A escolha do produto para implante depende do objetivo almejado, da região tratada e da experiência do profissional responsável. O preenchimento com PMMA é definitivo e tem uma característica peculiar: apenas o veículo que transporta o produto é absorvido pelo organismo, ao passo que as moléculas de
PMMA permanecem onde foram implantadas em função do seu tamanho e da homogeneidade da superfície, estimulando basicamente em uma mesma proporção o veículo absorvido.
Implantes com PMMA, assim como hidroxiapatita de Ca e ácido polilático têm, ainda, como particularidade estimular a produção natural de colágeno pelo paciente. Assim, à diferença das cirurgias plásticas que usam próteses de silicone, o procedimento realizado com polimetilmetacrilato é definitivo e completo. O ácido hialurônico, por sua vez, é uma substância produzida naturalmente pelo organismo humano, que foi sintetizada para ser usada como preenchedor. É indicado principalmente nos casos em que o paciente não está totalmente seguro das mudanças por vir. O preenchimento com ácido hialurônico também é recomendado em intervenções nos lábios, onde produz resultados mais harmônicos e naturais que outros produtos.

Nem repouso, nem suturas. O procedimento apresenta uma série de pontos positivos, uma vez que não desencadeia efeitos colaterais (intoxicação, rejeição ou câncer), não perde sua forma nem seu volume com o tempo e ainda permite realizar novos implantes no mesmo local, sempre que necessário. Entre outras conveniências, citam-se:
– A substância não se desloca do lugar em que foi implantada e não corre risco de “estourar”, como no caso das próteses de silicone.
– O preenchimento é realizado sob anestesia local no próprio ambiente do consultório médico e dispensa internação e cuidados pós-operatórios.
– O procedimento dá ao paciente a possibilidade de acompanhar o passo a passo acordado, através de um espelho. Assim, ele percebe o resultado de imediato e pode participar dele ativamente.
– O custo financeiro é menor se comparado à cirurgia convencional.
– As substâncias utilizadas são de aplicação rápida e segura e não são rejeitadas pelo organismo.
– Ele permite um rápido retorno às atividades habituais.

AS MAÇÃS DO ROSTO – O preenchimento facial permite delinear, corrigir imperfeições e projetar a maçã do rosto, atribuindo-lhe traços de jovialidade que se perdem com o tempo.

OS GLÚTEOS – Dá volume e define o traçado das nádegas de forma rápida e simples. Permite, também, acentuar o quadril e preencher alguns pontos de celulite grau II ou III, quando o procedimento é realizado em conjunto com uma técnica chamada subcisão, por meio da qual se faz o descolamento da trabécula que mantém o aspecto casca de laranja da celulite.

A MANDÍBULA – Recria a definição da linha que divide a face e o pescoço. Com o preenchimento do local, consegue-se diminuir a flacidez tissular graças a um efeito similar ao lifting, principalmente quando realizado em conjunto com a maçã do rosto (malar).

O NARIZ – Durante um mesmo procedimento, é possível elevar, afinar ou projetar a ponta do nariz, diminuir sua base e melhorar o dorso nasal. O paciente vai para casa no mesmo dia e só precisa permanecer com curativo por duas semanas.

AS PANTURRILHAS – O preenchimento e a biomodulação corporal permitem aumentar as panturrilhas quando elas são desproporcionais ao resto do corpo sempre que o paciente não obtém bons resultados com treinamentos físicos e musculação. Não recomendo muito esse procedimento (apenas casos muito selecionados), pois o resultado é sutil (o procedimento precisa ser feito com cautela) e o pós-procedimento pode ser um tanto desconfortável com edema de membro inferior e dor e calor local por se localizar na extremidade mais inferior do corpo humano.

O QUEIXO – A escultura do mento aumenta, dá protusão e corrige imperfeições e assimetrias com o implante de materiais biocompatíveis.

O PEITORAL – Indicado em casos de hipotrofia do músculo peitoral e de síndrome de Poland (agenesia do músculo peitoral), o procedimento oferece maior simetria muscular às pessoas com desproporção, que não conseguem reequilíbrio com treinamento físico e musculação.

OS OMBROS – A intervenção para aumento do deltoide é realizada em pacientes com assimetria e hipotrofia muscular e para fins de correção de cicatriz ou afundamento com perda da camada adiposa, dentre outros.

NA LIPODISTROFIA – O preenchimento em pacientes soropositivos é especialmente bem-sucedido com o uso de PMMA em implantes definitivos.

OS LÁBIOS – É possível aumentar os lábios, melhorar seu contorno, definir o arco do cupido, corrigir imperfeições e alcançar maior harmonia da face graças a implantes de preenchedores.

AS MÃOS – Elas também sofrem envelhecimento, com perda de tecido conjuntivo. A pele fica mais flácida e manchada, o dorso revela os tendões e as veias, dando-lhes um aspecto senil. Um implante de filler pode recuperar esses volumes e disfarçar a ação do tempo.

NAS RUGAS, CICATRIZES E DEPRESSÕES – O procedimento oferece a possibilidade de preencher sulcos e marcas provenientes de traumatismos ou do envelhecimento natural. Também é excelente indicação para devolver o volume aos sulcos nasolabiais ou lábio-genianos, eliminando o chamado bigode-chinês.

A técnica de preenchimento de PMMA surgiu nos Estados Unidos na década de 1990, quando o cirurgião norte-americano Robert Ersek desenvolveu um polímero biocompatível chamado bioplastique e através dele aperfeiçoou uma técnica de implantes para preenchimento subcutâneo com o auxílio de microcânulas atraumáticas. Segundo Lemperle (2003), a substância aloplástica ideal para implantação deveria ser biocompatível, segura e estável no local de implantação. Deveria manter seu volume quando implantada no hospedeiro, não causar protusão através da pele ou mucosa, induzir mínima reação de corpo estranho, não ser removida por fagocitose, não ter potencial migratório para locais distantes e, principalmente, não causar granuloma por corpo estranho. Rubin (1997) complementou a descrição afirmando que o material deveria ser inerte aos fluidos corporais, facilmente manipulável na mesa cirúrgica e, acima de tudo, permanentemente aceito.


Os compostos de colágeno, as melhores substâncias existentes até há pouco tempo para preenchimento de tecidos moles, não ofereciam resultados animadores, pois perdiam em pouco tempo seu efeito reparador, sendo reabsorvidos por fagocitose pelos macrófagos em cerca de quatro a seis semanas. Foi também tentado o uso de silicone; entretanto, apareceram efeitos colaterais, como a formação de extensos granulomas (devido à superfície áspera das micropartículas), tornando inaceitável seu uso para preenchimento de tecidos moles.
Em 1992, o cirurgião plástico Almir Moojen Nacul, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), começou a explorar as possibilidades de uso do biomaterial e consolidou a técnica de preenchimento a partir do uso de microesferas de polimetilmetacrilato (PMMA) em um plano mais profundo e até mesmo intramuscular. Desde então, o procedimento vem sendo aplicado para fins estéticos e para repor volumes perdidos.

À esquerda: microcânula. À direita: injeção do produto (composto de microesferas de PMMA e colágeno) na derme profunda para correção de rugas. Quanto ao volume a ser implantado, é muito raro que ocorra supercorreção, devido ao fato de que há uma densidade alta na derme profunda, o que permitirá que somente uma certa quantidade do produto seja injetada. Devido a esse fato, é recomendável que sejam feitas aplicações adicionais (mais uma ou duas) sobre as já existentes para que se atinja o resultado desejado.

Estudos histológicos permitiram aperfeiçoar um tipo de implante suficientemente estável no local da implantação a longo prazo e indutor de uma resposta mínima como corpo estranho. Em um estudo longitudinal, Allen (1992) avaliou as reações celulares após a injeção de implantes inertes. Elas eram seguidas por uma série de eventos de magnitude variável: nas primeiras 24 horas, ele identificou a predominância de neutrófilos e pequenas células redondas. Em 48 horas, constatou a presença maciça de monócitos e, em sete dias, observou a formação de células gigantes contra corpos estranhos.

Ao cabo de duas semanas, a resposta celular já era moderada; em quatro semanas os monócitos se diferenciaram em células epiteloides, e os fibroblastos surgiram. Depois de seis semanas, células gigantes de corpo estranho foram notadas, enquanto se intensificava a deposição de colágeno no local. Em oito semanas, as células inflamatórias crônicas estavam dispersas ao longo de uma importante deposição de colágeno. A partir daí, a reação celular ao corpo estranho se estabilizou e em seis meses células gigantes e uma tímida resposta celular ainda estavam presentes ao lado de uma pequena quantidade de colágeno denso. Os fibroblastos se converteram em fibrócitos.

Ver Capítulos

Introdução

Em busca da fonte da juventude

Primeira Parte: CONCEITOS DE BELEZA

Anatomia ósse da face
Anatomia da pele
Beleza e Atratividade
– Por que achamos alguém bonito?
– Sequência de Fibonacci
– Estética áurea
– Para pensar
Etiologia do envelhecimento
– Como nos tornamos senis?
– Telômeros e senescência
– Isto é surpreendente!
– Vida útil em discussão
– O equilíbrio da imunidade
O envelhecimento cutâneo
– Fisiopatologia
– Achados clínicos
– Medidas preventivas
– A importância do bom-senso médico no tratamento estético
Transtorno dismórfico corporal
– Etiologia
– TDC e procedimentos estéticos
O potencial de transformação dos fillers
– Condições ideais para um bom produto de preenchimento
– O que é o preenchimento
– Lifting X Ressurfacing
– Técnicas de volumetria
O que a ciência promete para o futuro?

Segunda parte: PREENCHEDORES MAIS USADOS

Não permanentes
Permanentes ou não absorvíveis
Características gerais
Polimetilmetacrilato
Ácido hialurônico
MD Codes
Ácido polilático
– Utilização dos fios de ácido polilático
Hidroxiapatita de cálcio
Hidrogel
Silicone líquido injetável
Outros tratamentos associados a preenchimento
– Toxina botulínica
– Laser CO2 fracionado
Adendo: Análise microscópica do polimetilmetacrilato

Terceira parte: O PASSO A PASSO DA TRANSFORMAÇÃO

Uma plástica minimamente invasiva
O instrumental que se usa
O procedimento e a “mão” do médico
Tipos de anestesia
Perigos do procedimento com preenchedores em geral
Topografia facial e riscos do preenchimento
Complicações e como gerenciá-las

Quarta parte: PROCEDIMENTOS FACIAIS E CORPORAIS

Preenchimento facial
Preenchimento das maçãs do rosto
Preenchimento de rugas, sulcos faciais e cicatrizes
Rinomodelação com preenchimento
Preenchimento da mandíbula
Preenchimento labial
Preenchimento do mento
Preenchimento de pálpebras
Preenchimento peitoral
Preenchimento de glúteos
Preenchimento em lipodistrofia
Bioplastia genital
– Bioplastia e técnicas para aumento do pênis
– Bioplastia de saco escrotal
– Bioplastia de glande
– Bioplastia de vulva
– Bioplastia de clitóris
– Bioplastia de reconstrução após mudança de sexo
Poliomielite
Síndrome de Parry Romberg
Tratamento de celulite e irregularidades cutâneas
Goldincision – Tratamento com subcisão e preenchimento com PMMA

Quinta parte: ASPECTOS JURÍDICOS

A Anvisa e os produtos aprovados por ela
Direito e Medicina
A lei e o uso de implantes líquidos
O Código de Ética Médica

 

 

 

Ciência e Arte do Preenchimento é o primeiro livro do Dr. Roberto Chacur. Na publicação, o Dr. Chacur reúne sua experiência para mostrar a ciência por trás do preenchimento e o requinte da arte na hora de trabalhar harmonização facial e corporal.

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