HIDROXIAPATITA DE CÁLCIO

Conteúdo extraído do livro “Ciência e Arte do Preenchimento”, Ed. AGE, 2018.

Composto sintético em formato de microesferas constituídas de cálcio e fosfato, está presente nos ossos humanos e no esmalte dos dentes; por isso, circula naturalmente no organismo, é biocompatível e pode ser utilizado sem que haja necessidade de testes de hipersensibilidade. Além disso, é um produto que não migra no corpo: é inerte, seguro, estável e biodegradável, o que significa que o corpo o absorve de maneira natural e segura e o elimina gradualmente. Sendo o fosfato e o cálcio importantes mediadores celulares na estimulação da formação proteica, a hidroxiapatita de cálcio (CaHA) é essencialmente indicada para corrigir sulcos na face, principalmente sulcos nasogenianos, e seu efeito se estende, em média, por dois anos ou até mais. Também estimula a formação de colágeno na região. Por isso, representa uma opção interessante para os pacientes que têm receios em relação a resultados tardios.
A substância é apresentada na forma de um gel leitoso, no qual estão suspensas microesferas da hidroxiapatita de cálcio extremamente lisas e regulares. Os preenchedores com hidroxiapatita de cálcio também têm na sua formulação celulose, glicerina e solução salina, substâncias que serão rapidamente absorvidas, uma vez injetadas no organismo. De fácil aplicação, eles são normalmente indicados para preencher rugas moderadas a profundas, sulcos e imperfeições nas linhas faciais.

Presente na natureza, ela faz parte das rochas metamórficas e, em tecidos vivos, a hidroxiapatita e seus precursores integram diferentes grupos animais, como os corais e as estrelas do mar. Nas pesquisas sobre biomateriais, estudam-se suas formas de aplicação máximas, uma vez que o material extraído de diferentes origens oferece resultados distintos, sendo um desafio para a medicina genômica poder empregá-lo para reconstruir órgãos a partir de células-tronco.
A hidroxiapatita de cálcio é um biocristal que consiste de átomos de cálcio, fósforo e hidrogênio, de acordo com a fórmula a Ca10(PO4)6 (HO)2. Pertence à família das apatitas, tem uma estrutura hexagonal, com o grupo espacial P63/m. Os principais componentes químicos da hidroxiapatita de cálcio são o cálcio e o fosfato. No entanto, a substância natural também contém percentagens mínimas de sódio, cloro, carbonatos e magnésio, que têm papel importante na função remodeladora do osso. Por essa razão, ela não é considerada uma apatita pura.
Nos organismos vivos, o cristal de HAP cresce e se compacta para dar resistência aos ossos e aos dentes mediante um complicado processo ao qual está associada a presença de colágeno. A ação do colágeno serve de molde para acomodar o novo cristal em crescimento. O início da cristalização da HAP ocorre em estágios embrionários e fetais, tendo sido demonstrado que em ratos de laboratório esse processo tem início com 19 dias de gestação.
A HAP é um biomaterial por excelência. Utilizada em ortopedia, em odontologia e em oftalmologia, tem diferentes origens – bovina, porcina, sintética, coralina –, cada qual oferecendo melhores resultados para uma ou outra finalidade. É, portanto, recomendado que se observem suas características físicas e químicas, tais como a resistência, a dureza, a porosidade, a solução, a adesividade, antes de ser empregada como biomaterial.

Por ser um componente de formação dos ossos e dentes, a hidroxiapatita de cálcio é radiopaca: pode aparecer na imagem do raio X ou na tomografia computadorizada. Dura e pesada, não deve ser injetada superficialmente e tampouco é indicada para uso nos lábios. De aplicação subcutânea, se injetada superficialmente, pode causar o aparecimento de nódulos brancos, que nada mais são do que um acúmulo do próprio material. Por esse motivo, não indico hidroxiapatita de cálcio em olheiras. Estudos vêm demonstrando que uma menor quantidade de hidroxiapatita é necessária para promover o mesmo grau de correção que o ácido hialurônico, sendo essa uma de suas principais vantagens.

O preenchimento com a hidroxiapatita de cálcio pode ser proposto para quem almeja resultados mais duradouros na face, mas tem dúvidas quanto a preenchimentos definitivos. Sendo este composto inerte, brando, flexível e aplicado na camada subcutânea ou intramuscular e submuscular, acaba adotando as características do tecido mole circundante e se torna praticamente imperceptível no local onde foi injetado, daí sua utilidade em áreas da face sujeitas a grande exposição. A hidroxiapatita de cálcio apresenta maior viscosidade (é mais dura) que o ácido hialurônico e por isso é indicada principalmente para repor a perda de volume facial, suavizar as rugas ou linhas marionetas (marcas entre o canto do lábio e o queixo), rejuvenescer as mãos e preencher olheiras e vincos profundos debaixo dos olhos. A substância também pode ser aplicada para dar volume ou corrigir imperfeições no queixo, no nariz e nas bochechas. A hidroxiapatita de cálcio produz igualmente ótimos resultados no rejuvenescimento do dorso das mãos, dando-lhes volume e textura. Em pacientes com lipoatrofia da face (diminuição da gordura), o uso da substância é igualmente muito indicado.
O volume de material injetado não deve ser muito grande, em função do estímulo da formação de colágeno cutâneo, e o procedimento pode ser realizado em pacientes de qualquer idade que apresentem deformações ou depressões cutâneas, embora seja recomendado a homens e mulheres entre 40 e 60 anos de idade, de acordo com o seu grau de envelhecimento.

O produto mais usado em todo o mundo e único liberado pela ANVISA para preenchimentos com essas características é o Radiesse®. Ele é uma mistura de hidroxiapatita de cálcio (30%) e gel de polissacarídeo (70%), sendo este de coloração muito alva, o que torna seu uso ainda polêmico entre alguns especialistas. Aprovado pelo FDA desde dezembro de 2006 para corrigir sulcos nasolabiais e labiomentuais, sua utilização para preencher partes moles chegou a gerar preocupações na comunidade médica em função da formação de granulomas, nódulos e aglutinação, além da migração das microesferas. Nos Estados Unidos, a aprovação cosmética pelo FDA indica duração de seis meses, sendo que todos os resultados de maior duração foram registrados em pacientes HIV. No Brasil, liberado pela Anvisa como preenchedor facial, o Radieese® é absorvido em cerca de 18 meses, sendo considerado uma substância de média duração e não migratória.

O tratamento com hidroxiapatita de cálcio é feito sob anestesia local, por um profissional com experiência em implantes líquidos, e pode ser realizado no mesmo dia da avaliação, já que dispensa exames laboratoriais. Em geral, se usa uma pomada anestésica para aliviar o desconforto da entrada da agulha. Na região dos lábios e sulcos nasogenianos, é hábito utilizar um bloqueio anestésico, que pode ser odontológico. Como essa injeção é subcutânea, o procedimento não causa ardência e não chega a provocar muita dor. Durante a conduta, não há incisões, nem cicatriz nem pontos. O material é aplicado pelo dermatologista em ambiente asséptico e a infiltração do material deve chegar até a derme subcutânea e periostal, dependendo do tipo de correção a ser feita. O produto é injetado por meio de microcânulas especiais, atraumáticas e descartáveis, o que afasta o risco de lesão vascular nervosa. O pós-operatório não exige afastamento das atividades diárias. Depois que foram injetados, o gel e a hidroxiapatita de cálcio são eliminados pelo organismo, não sem antes provocar uma pequena reação inflamatória que envolve as partículas do polímero e promovem a formação de um tecido que as envolve e mantém no local. Em duas ou três semanas, o paciente precisa voltar ao consultório do médico para avaliar os resultados e a eventualidade de novos retoques. 

É normal ocorrer o aparecimento de um pequeno inchaço após a aplicação, o que melhora com compressas frias. Também podem aparecer manchas avermelhadas, que desaparecem em dois ou três dias. Por ser uma substância absorvida pelo organismo, a hidroxiapatita de cálcio não oferece risco de ocasionar reações alérgicas ou formar nódulos no local. Há, ainda, a possibilidade de aparecerem edemas após o preenchimento, e estes tomam mais tempo para desaparecer. De modo geral, o paciente pode voltar à vida normal em menos de 24 horas. Nos 15 primeiros dias após a aplicação, recomenda-se massagear bem o local com movimentos circulares e ascendentes. Evitar a exposição excessiva ao sol e fazer uso de protetor solar, bem como se abster de atividades físicas intensas no período de recuperação são recomendações que devem ser observadas. Quando o preenchimento é realizado nas mãos, a orientação é não massagear o local nem fazer esforços repetitivos, como digitar no computador durante muitas horas.

O preenchimento com hidroxiapatita de cálcio promove a correção imediata da área tratada, além de estimular a proliferação de fibroblastos, células produtoras de colágeno, em consequência da deposição de fibras colágenas no local onde ela foi implantada. O gel e as microesferas formam um ambiente propício à formação de colágeno e ao crescimento tecidual na região onde foram aplicados. Com o tempo, o organismo absorve o gel, e o colágeno em formação se infiltra, ocupando o espaço com o próprio tecido natural do paciente.
Durante esse processo, as microesferas de hidroxiapatita de cálcio servem de suporte para que o organismo produza um novo tecido, enquanto elas são naturalmente absorvidas. Assim, mais do que um preenchedor, a substância ajuda a reconstruir as camadas da pele e oferece resultados estéticos imediatos e duradouros.
Ao cabo de 16 semanas, o novo colágeno produzido está instalado, sendo que estudos clínicos mostram que o procedimento pode perdurar por até cinco anos. Outra vantagem da hidroxiapatita de cálcio é o fato de ela poder ser associada ao ácido hialurônico e ao ácido polilático durante procedimentos estéticos.
Os resultados são mais duradouros que com os demais preenchedores absorvíveis e podem ser percebidos já no momento da aplicação. Em geral, é necessária apenas uma sessão para finalizar o procedimento, mas, em alguns casos, recomendam-se aplicações periódicas, anuais, de acordo com avaliação médica.

O preenchimento com hidroxiapatita de cálcio é contraindicado para quem tem sensibilidade aos seus componentes e em caso de gravidez, susceptibilidade a queloides, doenças autoimunes e problemas de coagulação. As complicações são raras, mas se o produto for injetado de maneira superficial, é provável que forme caroços, que podem se tornar visíveis ou palpáveis. Por isso, recomenda-se que o médico faça uma massagem vigorosa na área tratada logo após a aplicação e que o paciente continue com o mesmo procedimento em casa.
Sendo a principal complicação relatada na literatura o aparecimento de nódulos, sabe-se que eles podem resultar apenas do acúmulo do produto debaixo da pele ou, então, de uma tentativa do organismo de isolá-lo, formando granulomas. Esses caroços podem manifestar-se na forma de uma massa palpável mas indolor, ou produzir intensa reação inflamatória, com ou sem infecção associada.

A hidroxiapatita de cálcio é um preenchedor versátil, durável e seguro se bem indicado e utilizado corretamente. Seu ponto forte em relação ao AH é maior estímulo de colágeno e durabilidade. É muito bom para utilizar em planos profundos, malares, mandíbula, mento, com desvantagem de não ser indicado, ou indicado relativamente, em planos superficiais, como rugas finas, e não indicado para lábios.

Ver Capítulos

Introdução

Em busca da fonte da juventude

Primeira Parte: CONCEITOS DE BELEZA

Anatomia ósse da face
Anatomia da pele
Beleza e Atratividade
– Por que achamos alguém bonito?
– Sequência de Fibonacci
– Estética áurea
– Para pensar
Etiologia do envelhecimento
– Como nos tornamos senis?
– Telômeros e senescência
– Isto é surpreendente!
– Vida útil em discussão
– O equilíbrio da imunidade
O envelhecimento cutâneo
– Fisiopatologia
– Achados clínicos
– Medidas preventivas
– A importância do bom-senso médico no tratamento estético
Transtorno dismórfico corporal
– Etiologia
– TDC e procedimentos estéticos
O potencial de transformação dos fillers
– Condições ideais para um bom produto de preenchimento
– O que é o preenchimento
– Lifting X Ressurfacing
– Técnicas de volumetria
O que a ciência promete para o futuro?

Segunda parte: PREENCHEDORES MAIS USADOS

Não permanentes
Permanentes ou não absorvíveis
Características gerais
Polimetilmetacrilato
Ácido hialurônico
MD Codes
Ácido polilático
– Utilização dos fios de ácido polilático
Hidroxiapatita de cálcio
Hidrogel
Silicone líquido injetável
Outros tratamentos associados a preenchimento
– Toxina botulínica
– Laser CO2 fracionado
Adendo: Análise microscópica do polimetilmetacrilato

Terceira parte: O PASSO A PASSO DA TRANSFORMAÇÃO

Uma plástica minimamente invasiva
O instrumental que se usa
O procedimento e a “mão” do médico
Tipos de anestesia
Perigos do procedimento com preenchedores em geral
Topografia facial e riscos do preenchimento
Complicações e como gerenciá-las

Quarta parte: PROCEDIMENTOS FACIAIS E CORPORAIS

Preenchimento facial
Preenchimento das maçãs do rosto
Preenchimento de rugas, sulcos faciais e cicatrizes
Rinomodelação com preenchimento
Preenchimento da mandíbula
Preenchimento labial
Preenchimento do mento
Preenchimento de pálpebras
Preenchimento peitoral
Preenchimento de glúteos
Preenchimento em lipodistrofia
Bioplastia genital
– Bioplastia e técnicas para aumento do pênis
– Bioplastia de saco escrotal
– Bioplastia de glande
– Bioplastia de vulva
– Bioplastia de clitóris
– Bioplastia de reconstrução após mudança de sexo
Poliomielite
Síndrome de Parry Romberg
Tratamento de celulite e irregularidades cutâneas
Goldincision – Tratamento com subcisão e preenchimento com PMMA

Quinta parte: ASPECTOS JURÍDICOS

A Anvisa e os produtos aprovados por ela
Direito e Medicina
A lei e o uso de implantes líquidos
O Código de Ética Médica

 

 

 

Ciência e Arte do Preenchimento é o primeiro livro do Dr. Roberto Chacur. Na publicação, o Dr. Chacur reúne sua experiência para mostrar a ciência por trás do preenchimento e o requinte da arte na hora de trabalhar harmonização facial e corporal.

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